quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

trem bala em velocidade de tartaruga

Há alguns meses, a imprensa e os burocratas do Planalto fizeram um zum zum zum em torno de um sonho antigo - a construção de um trem bala ligando o Rio a São Paulo. É ridículo pensar que um país de extensões continentais como o Brasil tenha simplesmente ignorado o transporte ferroviário, como fez nas últimas décadas. A desculpa, sempre, é a falta de verbas. Mentira! É falta de vontade política mesmo. Hoje, o diário La Nación noticiou o projeto de um trem bala que ligará Buenos Aires a Córdoba, passando por Rosário (as duas mais importantes cidades do interior do país). Já o projeto aventado pela ministra Dilma Roussef, que causou zum zum zum, parece dormir nas gavetas da burocracia de Brasília. "Sairá muito caro", dizem. Mas e o Brasil não tem dinheiro para tanto? Não somos a sexta economia do planeta?

Está certo que a Argentina cresceu mais que o Brasil nos últimos anos, mas há que se lembrar que esse crescimento significa, por enquanto, apenas a recuperação da economia do país vizinho aos antigos patamares, de antes do corralito que quase levou o país à falência, em 2001. Além disso, o Brasil tem uma estrutura econômica e política muito mais estável que nossos hermanos e os investimentos estrangeiros feitos por aqui nem de longe são comparados àqueles aportados na Argentina. Logo, se eles conseguem fazer um trem bala que vai cruzar mais de 700 km pelo interior do país, nós também conseguimos. Somadas, as populações de Buenos Aires, Córdoba e Rosário são de aproximadamente 18 milhões, menos que os 20 milhões de paulistas que vivem só na Grande São Paulo. Ora, ora... por aqui, temos muito mais gente a transportar e a pagar os bilhetes. Não há desculpas.

Quando se viaja pela Europa, pode-se observar a eficiência do transporte ferroviário de alta velocidade. É muito mais confortável que tomar ônibus ou avião. A edição de hoje do El País traz um gráfico que mostra o projeto, já pronto, de um um trem bala que passará sob o estreito de Gibraltar, ligando a Europa à África, pelo Marrocos, ao estilo Eurostar, que liga Londres a Paris. O Brasil deveria seguir o exemplo da Espanha, um país que há menos de 30 anos tinha estatísticas de terceiro mundo, cuja classe política se uniu em torno de um projeto de Estado, essencial na trajetória de desenvolvimento do país nas últimas décadas. Isso significa que, se o Brasil quiser, pode sim construir o trem bala entre o Rio a São Paulo, bem como projetar outras linhas país afora (uma ferrovia que ligasse as capitais do Nordeste pelo litoral, por exemplo, faria explodir a indústria do turismo na região).

Toda esta história vale para a Educação, a infra-estrutura, a Cultura e tudo mais que está esculhambado no Brasil. Vale também para o Metrô de São Paulo. Chega a ser patético uma cidade dessas dimensões ter uma rede tão acanhada.

Um comentário:

  1. Talvez o senhor nao saiba, mas a topografia entre Buenos Aires e Córdoba difere muito da topografia entre Sao Paulo e Rio de Janeiro. Entre as duas primeiras cidades o relevo é plano, enquanto entre as duas ultimas o relevo é montanhoso(estima-se que o trem bala precisará de 150 km de túneis). O que influencia no custo de um projeto desses no caso nao é a distancia entre as cidades, mas a dificuldade do projeto. A prova clara: o projeto argentino foi orçado em 1,5 bilhoes de dólares, enquanto o Brasileiro em 8-11 bilhoes de dólares.
    Devemos lembrar que o projeto argentino é muito polemico, considerando que a vencedora da licitaçao foi a empresa Alstom, suspeita de corrupçao em vários países.
    Um projeto de 11 bilhoes de dólares é um projeto caro para um país, considerando que a maior parte do dinheiro do governo já tem um destino certo(educaçao, saúde, salários de funcionários...), nenhuma empresa no país seria capaz de patrocinar este projeto, a opçao que sobra é a vinda de dinheiro de fora(raro nesses tempos de crise). Vale lembrar também que o projeto tem um custo benefício baixo, considerando que com este mesmo investimento poderia ser modernizada e ampliada a malha ferroviária comum.
    O trem bala é um projeto faraonico, ve-se que em nenhum país de terceiro mundo(com a excessao da Argentina) há um sistema do tipo, mesmo em países desenvolvidos é um transporte incomum.
    De qualquer forma o governo já fez um estudo do projeto e aparentemente ainda neste ano será feito a licitaçao.

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"Toda unanimidade é burra" - Nelson Rodrigues

 
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