quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

o circo de Chávez

Clara Rojas e Consuelo Gonzalez estão livres. Depois de anos sequestradas pelas FARC, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, a advogada de 44 anos e a deputada de 56 podem voltar para casa, para suas famílias. Não há como não ficar feliz com a liberdade das duas, bem como não dá para não rechaçar a estupidez da guerrilha colombiana, cuja ideologia já se esvaiu há tempos para dar lugar a um tática de mero desmonte do Estado da Colômbia - ou seja, os revolucionários já entraram na classificação dos justiceiros sem causa.A questão colombiana é complexa. A história das duas é grande, triste e comovente. Por isso, uso o post para falar do circo de Chávez.

Pela primeira vez, o mundo parece ter dado o braço a torcer para o pseudo democrata venezuelano. Até o governo dos EUA ("o império do norte", no léxico bolivariano) rendeu elogios a Chávez. Tudo está ok até o momento. Pesares à parte, o presidente da Venezuela tem seus méritos (bem como seus deméritos) na negociação com as FARC. Foi uma ação humanitária, a qual o presidente Álvaro Uribe, da Colômbia, jamais poderia empreender, por conta de sua política de cerceamento da guerrilha.Questionável em todo o tempo foram os rompantes já conhecidos de Chávez durante as negociações. No fim do ano passado, ele simplesmente quebrou a hierarquia do Estado colombiano ao negociar imediatamente com o chefe do Comando Militar da Colômbia, passando por cima de Uribe e da institucionalidade do país vizinho. Claro que foi desautorizado por Bogotá e, em resposta, ao melhor estilo caudilho pateta latino-americano, Chavez disse improvérbios a Uribe, o chamou de mentiroso, etc, etc.Depois, Chávez e as FARC anunciaram a libertação de Consuelo, Clara e seu filho Emmanuel, que nasceu no cativeiro. Foi este o primeiro circo.

Toda a caudilhada latino-americana quis levar alguma coisa na história. Lá estavam o Marco Aurélio Garcia e o ex-presidente argentino Néstor Kirchner feitos papagaios de pirata. Só que a operação naufragou, simplesmente porque as FARC pensaram que tinham Emmanuel, mas não tinham. Ou seja, o grupo guerrilheiro que quer tomar de assalto o governo da Colômbia não consegue sequer contrololar o paradeiro de seus sequestrados.

Passada a frustração e a ressaca do primeiro circo, eis que Chávez arruma a segunda versão de seu espetáculo para o mundo. A libertação foi toda acompanhada pelas câmeras da Telesur, a TV chavista. Assim que são entregues, Clara Rojas e Consuelo Gonzalez já são postas diante das câmeras e, subitamente, começam a agradecer ao presidente Chávez. Em dois minutos, o ministro do interior da Venezuela, vestido com espalhafatosas roupas vermelhas no calor da selva amazônica, entrega um telefone às ex-reféns, com Chávez na linha. Ambas agradeceram mais uma vez ao presidente, tudo ao vivo pela TV.

No avião, mais agradecimentos. A Chávez, à Cruz Vermelha e uma série de outros envolvidos no resgate. Nenhuma menção a Uribe. É certo que o presidente da Colômbia não é flor que se cheire, é envolvido com as milícias paramilitares e teve uma política de não-negociação com as FARC. A questão é o que virá daí? Chávez vai se contentar com os sinceros agradecimentos de Clara e Consuelo? Ou vai, ao seu melhor estilo, usar a libertação como arma política no seu projeto panbolivariano pelo continente? Eu também agradeço a Chávez pela intermediação. Mas antes que o presidente da Venezuela possa dar qualquer declaração, é bom lembrar a frase real de Juan Carlos da Espanha: "Por que não te calas?".

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