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sexta-feira, 24 de abril de 2009

O grande vazio da Bienal

Escrevi, para a Folha Ilustrada de hoje, e para a CartaCapital, há duas semanas, sobre as idas e vindas da Fundação Bienal, uma das mais importantes instituições culturais do país. Não fosse pela força propulsora da instituição, os artistas e as artes brasileiras não teriam ganhado a proeminência que têm hoje. Acontece que a Bienal tornou-se vítima de sua própria meodiocridade. Com poucas exceções, falta gestão qualificada no conjunto das instituições culturais do país. É como se a política cultural ainda estivesse nos tempos do malufismo...


Análise - Gestão é o problema
O modelo de gestão da Fundação Bienal é ultrapassado e inadequado à realidade brasileira. Inspirado no conselho de mecenas do MoMA, de Nova York, cujos membros fazem aportes milionários à instituição, o similar brasileiro transformou-se num clube de notáveis, que não contribuem financeiramente e decidem com pouca transparência. Ainda que o poder público (Prefeitura de São Paulo) seja o principal credor da instituição, com repasses orçamentários de cerca de R$ 2 milhões anuais, há pouca ou nenhuma interferência pública. Outra parte do custeio vem de fundos de renúncia fiscal. Mesmo assim, a Bienal não possui uma estrutura permanente que administre seu financiamento, a exemplo da Pinacoteca do Estado. Prova disso é o pedido para captação via lei Rouanet protocolado às pressas, para a representação brasileira na Itália, e a decisão de adiar a próxima edição da Bienal para 2011, ano da Bienal de Veneza _como boa parte do evento é patrocinado pelos países representados na mostra, já se antevê outro aperto financeiro, uma vez que São Paulo irá competir com Veneza pelas verbas governamentais.

Participação brasileira na Bienal de Veneza está em risco

para a Folha de S. Paulo, 15.mar.09

O vazio que marcou a última edição da Bienal de São Paulo pode chegar ao pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza, o evento mais importante das artes plásticas no mundo. Até o momento, a Fundação Bienal não garante a produção da mostra, orçada em R$ 350 mil. Afundada em dívidas que ultrapassam R$ 4 milhões e em meio a uma crise política, a instituição pode esvaziar a representação artística e do Estado brasileiro em Veneza, já que o pavilhão é considerado território diplomático do país.

Para levantar fundos, a Bienal entrou às pressas com pedido no Ministério da Cultura para captação de recursos via lei Rouanet, mas não deve haver tempo hábil para os trâmites.

"Não aparecer em Veneza é lamentável, uma perda incrível para o circuito brasileiro", diz Ivo Mesquita, curador da representação brasileira e responsável pela última edição da Bienal de São Paulo. "Os reis escandinavos, por exemplo, vão representar seus países. É um dano na imagem do Brasil."

Os artistas selecionados para o pavilhão brasileiro são o fotógrafo paraense Luiz Braga e o pintor alagoano Delson Uchôa (foto). Ambos seguem produzindo normalmente, apesar da incerteza sobre a mostra.

Segundo apurou a Folha, a Fundação Bienal protocolou em 17 de março um projeto de captação de fundos via lei Rouanet para custeio da representação brasileira em Veneza. O pedido está sob analise técnica e, na melhor das hipóteses, poderá ser votado apenas em maio, quando acontece a próxima reunião do Conselho Nacional de Incentivo à Cultura.

Somente a partir daí, a fundação estaria apta a buscar um patrocinador e fazer a captação. As obras, no entanto, deveriam ser despachadas no dia 5 de maio, para a produção da mostra, que será inaugurada no dia 7 de junho.

Sem decisão
O presidente da Fundação Bienal, Manoel Pires da Costa, que deve deixar o cargo em breve, reconhece que "por enquanto não há nenhuma decisão" sobre o pavilhão do Brasil em Veneza. "Não posso tomar a decisão do próximo presidente", esquiva-se. A Bienal procura há cinco meses um novo nome para substituir Pires da Costa, que está à frente da fundação há três mandatos.

O mais cotado para assumir é Andrea Matarazzo, secretário paulistano das Subprefeituras. Segundo o presidente do conselho da fundação, o arquiteto Miguel Alves Pereira "o Manoel [Pires da Costa] já não decide mais nada". Ele crê que haverá representação, mas não dá garantias nem sabe de onde poderia vir o dinheiro.

O Itamaraty, responsável pela manutenção do pavilhão do Brasil em Veneza, disse por meio de sua assessoria que trabalha com a possibilidade da representação brasileira.

Em nota, o Ministério da Cultura diz que desde outubro "vem buscando o entendimento com as instituições brasileiras e italianas para resolver esta situação extremamente delicada que se abriu com a crise administrativa da Fundação Bienal de São Paulo e o vazio institucional então decorrente". Segundo o comunicado, o ministério "não pode resolver de forma unilateral a questão, nem substituir administrativamente a instituição responsável".

terça-feira, 17 de março de 2009

Mercado de arte empobrece depois da crise global

para a Folha de S. Paulo, 15.mar.09

Volume de vendas cai com saída de cena da classe média; no Brasil, efeito ainda não veio com força, mas há desaquecimento

Britânica Christie's vai fazer corte de 20% no número de funcionários; ações da americana Sotheby's caem 64% desde setembro

Passados nove meses de sua morte, o estilista francês Yves Saint Laurent causou frisson em Paris há três semanas. Sua coleção de arte privada, e de seu companheiro Pierre Bergé, foi leiloada por 373,5 milhões (foto acima).

O valor é recorde, mas o que mais estarreceu o setor, acostumado a cifras exorbitantes, é que a venda se deu no meio da turbulência econômica que varre o mundo. Apesar do resultado grandioso, as artes já amargam os efeitos da crise, com feiras enxutas e clientes ressabiados. No Brasil, a crise ainda não chegou com força, mas o mercado já se desacelerou. Na Bolsa de Arte do Rio, a captação de obras para a temporada de leilões, por enquanto, é 50% menor que em 2008.

O mercado de artes plásticas, assim como quase toda a economia, vivia tempo de vacas gordas até o estouro da crise. Poucos dias após a concordata do banco americano Lehman Brothers, há seis meses, um leilão com obras do britânico Damien Hirst (próxima foto) levantou US$ 107,8 milhões em Londres. Mas a bolha da arte contemporânea parece ter estourado. "Não se pode esperar que uma obra de um artista com menos de 50 anos valha mais que um Rafael", diz Pedro Corrêa do Lago, representante no Brasil da casa de leilão Sotheby's, referindo-se a um dos ícones da Renascença.

Apetite
A disparidade de preços mostra o quão aquecido andava o mercado de artes, sobretudo pelo apetite dos novos milionários russos e de colecionadores da Ásia. No Brasil, guardadas as devidas proporções, o mercado seguia igualmente bem. Ainda não se consegue ver com clareza os eventuais estragos da crise por aqui, já que as vendas tradicionalmente ganham força a partir de agora, com a temporada de leilões e a SP Arte, feira que acontece em maio.

Dadas as características do mercado brasileiro, muito pequeno e sem políticas públicas de aquisição, a alavancagem das galerias locais sempre foi muito limitada se comparada à das norte-americanas.

Segundo a marchand Márcia Fortes, da galeria Fortes Vilaça, a obra mais cara da última exposição da pintora carioca Beatriz Milhazes foi vendida por R$ 300 mil. Valor muito inferior ao US$ 1,05 milhão arrecadado com a venda de sua tela "O Mágico" (última foto), num leilão da Sotheby's em Nova York, no início do ano passado.

Os galeristas são unânimes em confirmar que o mercado anda "devagar", mas negam que estejam baixando preços. "Estamos é enxugando todo tipo de operação, em cerca de 30%", diz Fortes, que representa outros pop stars da arte brasileira, como Vik Muniz e Ernesto Neto.



Segundo outra marchand, Raquel Arnaud, dona da galeria que leva seu nome, "esta é uma fase de espera". "Os clientes estão mais cautelosos", conta.

Já o galerista Eduardo Leme, que é economista, acredita que parte da retração no mercado internacional de artes se dá porque repentinamente saiu de cena uma classe média que passou a consumir com a bonança dos últimos anos. "Mas isso não acontece no Brasil, porque esse perfil é insignificante aqui." Ele diz que não é só o preço ou a oportunidade do negócio que motiva a compra de uma obra: "Tem o fetiche da peça única e a vontade do colecionador, que vai continuar comprando, senão a peça mais cara, uma mais barata".

Transações milionárias
Por trabalhar com uma mercadoria muito subjetiva, o mercado de artes possui diversas nuances. Os especialistas dizem que a crise não deve impedir, por exemplo, transações milionárias de obras-primas consagradas, cujo preço não deve cair. Um trabalho da fase de vanguarda de Pablo Picasso, por exemplo, vai continuar caro e com mercado garantido, mas uma "obra média", uma gravura dos seus últimos anos, pode se tornar suscetível.

"Se Eduardo Constantini [colecionador argentino] quiser vender "O Abaporu", de Tarsila do Amaral, vai ter quem pague milhões aqui no Brasil", afirma Jonas Bergamin, presidente da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro. O mesmo não acontece com obras menores e artistas menos consagrados, a julgar pela dificuldade de Bergamin em captar peças para a próxima temporada de leilões.

"A oferta para os leilões caiu 50%. É comum pensar que, numa crise, as pessoas vão vender. Podem até deixar de comprar, mas nunca vão vender", diz, considerando que as obras também são uma reserva de valor. Para Corrêa do Lago, da Sotheby's, há "uma correção de 10% a 30% no valor das peças médias". Ele confirma a dificuldade na captação de obras.

E o sucesso do leilão de Saint Laurent? "É que uma peça que pertenceu a ele ganha pedigree", responde Corrêa do Lago. Também havia muitas raridades entre as obras leiloadas, que não vão estar disponíveis tão cedo no mercado.

Preços
Christina Haegler, representante da Christie's, a casa responsável pelo leilão do estilista, também se diz surpresa: "Foi um alívio". Ela conta que o valor das obras tem caído nos pregões. "Na arte contemporânea, os preços caíram até 30%", diz, e também há dificuldade em encontrar peças para os leilões. A desaceleração do mercado de artes já fez com que a Christie's anunciasse que irá fazer "reduções significativas no quadro de funcionários" ao longo deste ano. Fala-se de um corte de até 20%.

O volume de vendas dos leilões antes e depois da crise (apesar da surpresa em Paris) mostra o desaquecimento. Em maio do ano passado, um leilão com produção do pós-Guerra, que incluía o expressionista abstrato Sam Francis, teve 95% dos lotes vendidos pela Christie's. Em novembro, num outro leilão, que incluía peças do também artista americano Jean-Michel Basquiat, 68% dos lotes foram arrematados.

As coisas também não vão bem para a rival Sotheby's. Desde o agravamento da crise, as ações da empresa americana negociadas em Wall Street se desvalorizaram em 64%.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Sessentona, Barbie se muda para a China

Com a queda acentuada na demanda do consumidor nos EUA e na Europa, a Barbie fez as suas malas cor-de-rosa e se mudou para a China, segundo notícia da Bloomberg.


A Mattel Inc., a maior fabricante de brinquedos do mundo, ignorou Londres e Paris como o local da primeira loja dedicada ao seu brinquedo mais vendido, e escolheu um prédio de seis andares em Xangai. A loja foi inaugurada neste final de semana e oferece tudo, de roupas da designer de "Sex and the City", Patricia Field, a tratamentos de beleza, passando por coquetéis "Bitini".

A mudança acontece no ano em que Barbie completa 50 anos. A boneca já foi dona-de-casa, dondoca, profissional e tudo o que as mulheres foram ou almejaram ser nas últimas décadas. A foto, uma brincadeira, mostra como a Barbie realmente seria, se aparantasse a verdadeira idade (uns 68 anos, uma vez que a boneca já tinha uns dezoito anos quando nasceu... algo Macunaíma).

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Madonna escapou da crise por pouco, afirma produtor

para a Folha de S. Paulo, 21.dez.08

Responsável pela turnê "Sticky & Sweet", que rendeu US$ 280 mi, diz que a venda antecipada de ingressos evitou impactos da turbulência

Cantora também movimenta economia das cidades onde faz shows; em SP, prefeitura calcula que 39 mil turistas deixarão R$ 23,4 milhões

Não à toa ela é a "material girl". Mais do que a adrenalina dos fãs, Madonna movimenta milhões de dólares, na economia de onde passa e na própria conta bancária. Cantora mais bem paga de 2007, segundo a revista "Forbes", a rainha do pop pode ser considerada um fenômeno de fazer dinheiro. A turnê "Sticky & Sweet", que acaba hoje em São Paulo, deve render US$ 280 milhões à sua produtora, a Live Nation.

Segundo o produtor da turnê, Arthur Fogel, "até agora, não há crise para Madonna". Por pouco. "É que quase todos os ingressos foram vendidos antes de a crise começar", afirma, em entrevista à Folha."Eu não posso dizer que houve qualquer impacto, mas no futuro teremos de ser mais cuidadosos [na venda de ingressos]", disse Fogel, que produz as turnês de Madonna desde 2001. Ele admite um "ambiente econômico muito ruim", acha que "a crise vai afetar" os negócios da música, mas aposta que "grandes artistas não devem sofrer grande impacto".

Fogel foi um dos principais responsáveis, no ano passado, pela assinatura do contrato de dez anos de Madonna com a Live Nation, que rendeu US$ 120 milhões à cantora. Nada mal para quem diz ter chegado em Nova York com US$ 35 no bolso, em 1976. Três décadas depois, a Live Nation espera faturar US$ 1 bilhão com o contrato de Madonna.

A turnê, que vendeu 2,3 milhões de ingressos nos 58 shows (28 deles com lotação completa) em 17 países, deve render US$ 280 milhões. "É um bom começo", diz Fogel. Em 2006, a temporada de "Confessions on a Dance Floor" rendeu US$ 195 milhões. Na turnê de 2004, foram US$ 125 milhões e, na de 2001, US$ 75 milhões.

"Ela é um bom negócio. Neste ponto da sua carreira está melhor do que nunca", diz o produtor sobre a cantora, que mostra jovialidade aos 50 anos. Mas ele toma para si parte do sucesso: "Há um bom planejamento. Optamos por tocar em estádios maiores e para mais gente", conta. "Também incluímos cidades onde ela nunca tinha se apresentado ou não toca há muito tempo." Caso do Brasil, onde ela não cantava havia 15 anos: os três shows iniciais viraram cinco.

Fogel não revela muitos números, mas admite que a venda de CDs, a mina de ouro dos artistas no passado, já não é "tão relevante" no faturamento. "Hoje as turnês e o merchandising são a parte mais importante da receita de Madonna", diz. No ano passado, ela lançou uma linha de roupas na cadeia sueca H&M. Faturou US$ 15 milhões já na primeira semana.

Segundo Fogel, "Madonna é a responsável pela maior parte da receita da Live Nation". A cantora recebeu US$ 25 milhões em ações da companhia na ocasião do contrato. Além das turnês e do merchandising, a produtora administra os direitos autorais e as gravações de Madonna. A Live Nation também trabalha com artistas como Elton John e a banda de rock Mettalica. Apesar do otimismo de Fogel, as ações da companhia, negociadas na Bolsa de Nova York, acumulam perdas de 70% em 2008.

Extra-oficialmente, estima-se que a fortuna de Madonna supere US$ 1 bilhão. Mas não é só a cantora quem fatura com suas turnês. A Prefeitura de São Paulo calcula que os 39 mil turistas que vieram assistir aos shows deixarão R$ 23,4 milhões na cidade. No Rio, a ocupação hoteleira da zona sul foi de 83% no período dos shows, acima da média de 64%.

Tudo para assistir à turnê de divulgação de "Hard Candy" ("Doce Forte", duro, em português) -o álbum é dos mais vendidos em 2008, adoçando ainda mais as cifras de Madonna.
 
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