sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Björk cria fundo para ajudar Islândia

A cantora Björk está procurando investidores para o fundo Ardur Capital, criado por ela a fim de irrigar a economia da agora pobre Islândia. A ilhota no Atlântico norte, cujo IDH é o mais alto do mundo, está prestes a submergir - além do perigo trazido pelo aquecimento global, a Islândia viu sua economia derreter com a crise global.

Veja: Quase "falida", Islândia é o espelho da crise

O país se aproveitou da bolha ilusória da economia, que estourou em setembro. A dívida dos bancos do país é 9 vezes maior que o PIB islândes. A crise provocou uma situação surreal na ilha, cujo primeiro-ministro chegou a declarar, em rede nacional, que a Islândia estaria à beira da falência. Até empréstimo do FMI o país nórdico recebeu depois de entrar numa fria... gelada até para os padrões islandeses.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Madonna escapou da crise por pouco, afirma produtor

para a Folha de S. Paulo, 21.dez.08

Responsável pela turnê "Sticky & Sweet", que rendeu US$ 280 mi, diz que a venda antecipada de ingressos evitou impactos da turbulência

Cantora também movimenta economia das cidades onde faz shows; em SP, prefeitura calcula que 39 mil turistas deixarão R$ 23,4 milhões

Não à toa ela é a "material girl". Mais do que a adrenalina dos fãs, Madonna movimenta milhões de dólares, na economia de onde passa e na própria conta bancária. Cantora mais bem paga de 2007, segundo a revista "Forbes", a rainha do pop pode ser considerada um fenômeno de fazer dinheiro. A turnê "Sticky & Sweet", que acaba hoje em São Paulo, deve render US$ 280 milhões à sua produtora, a Live Nation.

Segundo o produtor da turnê, Arthur Fogel, "até agora, não há crise para Madonna". Por pouco. "É que quase todos os ingressos foram vendidos antes de a crise começar", afirma, em entrevista à Folha."Eu não posso dizer que houve qualquer impacto, mas no futuro teremos de ser mais cuidadosos [na venda de ingressos]", disse Fogel, que produz as turnês de Madonna desde 2001. Ele admite um "ambiente econômico muito ruim", acha que "a crise vai afetar" os negócios da música, mas aposta que "grandes artistas não devem sofrer grande impacto".

Fogel foi um dos principais responsáveis, no ano passado, pela assinatura do contrato de dez anos de Madonna com a Live Nation, que rendeu US$ 120 milhões à cantora. Nada mal para quem diz ter chegado em Nova York com US$ 35 no bolso, em 1976. Três décadas depois, a Live Nation espera faturar US$ 1 bilhão com o contrato de Madonna.

A turnê, que vendeu 2,3 milhões de ingressos nos 58 shows (28 deles com lotação completa) em 17 países, deve render US$ 280 milhões. "É um bom começo", diz Fogel. Em 2006, a temporada de "Confessions on a Dance Floor" rendeu US$ 195 milhões. Na turnê de 2004, foram US$ 125 milhões e, na de 2001, US$ 75 milhões.

"Ela é um bom negócio. Neste ponto da sua carreira está melhor do que nunca", diz o produtor sobre a cantora, que mostra jovialidade aos 50 anos. Mas ele toma para si parte do sucesso: "Há um bom planejamento. Optamos por tocar em estádios maiores e para mais gente", conta. "Também incluímos cidades onde ela nunca tinha se apresentado ou não toca há muito tempo." Caso do Brasil, onde ela não cantava havia 15 anos: os três shows iniciais viraram cinco.

Fogel não revela muitos números, mas admite que a venda de CDs, a mina de ouro dos artistas no passado, já não é "tão relevante" no faturamento. "Hoje as turnês e o merchandising são a parte mais importante da receita de Madonna", diz. No ano passado, ela lançou uma linha de roupas na cadeia sueca H&M. Faturou US$ 15 milhões já na primeira semana.

Segundo Fogel, "Madonna é a responsável pela maior parte da receita da Live Nation". A cantora recebeu US$ 25 milhões em ações da companhia na ocasião do contrato. Além das turnês e do merchandising, a produtora administra os direitos autorais e as gravações de Madonna. A Live Nation também trabalha com artistas como Elton John e a banda de rock Mettalica. Apesar do otimismo de Fogel, as ações da companhia, negociadas na Bolsa de Nova York, acumulam perdas de 70% em 2008.

Extra-oficialmente, estima-se que a fortuna de Madonna supere US$ 1 bilhão. Mas não é só a cantora quem fatura com suas turnês. A Prefeitura de São Paulo calcula que os 39 mil turistas que vieram assistir aos shows deixarão R$ 23,4 milhões na cidade. No Rio, a ocupação hoteleira da zona sul foi de 83% no período dos shows, acima da média de 64%.

Tudo para assistir à turnê de divulgação de "Hard Candy" ("Doce Forte", duro, em português) -o álbum é dos mais vendidos em 2008, adoçando ainda mais as cifras de Madonna.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

no século 17, tulipas deixaram Amsterdã à beira da bancarrota

para a Folha de S. Paulo, 21.set.08

Um arranjo de tulipas custa hoje cerca de R$ 30. Mas, na Holanda do século 17, para comprar um só bulbo da flor, era necessário dispor de 24 toneladas de trigo. A conta é assustadora, assim como foi a quebradeira que se seguiu à primeira crise especulativa de que se tem notícia. Quase 400 anos depois, Wall Street vê algumas de suas instituições ruírem. Os tempos e as crises são outras, mas o "espírito animal" que faz as cotações alcançarem preços irreais continua o mesmo.

"Espírito animal" foi o termo usado pelo economista inglês John Keynes (1883-1946) para explicar a euforia que move os investidores em busca do lucro fácil proporcionado pelo mercado financeiro. Assim foi na crise de 1929 e assim foi na rica Amsterdã dos anos 1600. A exótica tulipa, vinda do Oriente, virou mania entre os holandeses, que passaram a colecionar e logo a disputar os bulbos.

Tamanha valorização fez os produtores (e logo os intermediários) fecharem contratos futuros informalmente, os chamados "windhandel" (negócio de vento). A cada ano, o preço da tulipa se inflacionava e alcançava valores exorbitantes.

"Uma isca dourada fisgou tentadoramente um a um. Todos correram para os mercados de tulipas, como abelhas num pote de mel", descreveu Charles Mackay, num relato do século 19 que celebrizou a tulipamania, como ficou conhecida.

O que foi inicialmente uma vaidade dos ricos holandeses se tornou um negócio milionário. Mackay conta que um marinheiro bêbado passou seis meses na prisão depois de comer um dos valiosos bulbos, pensando se tratar de uma cebola.

Em 1637, a bolha estourou. "Foi um efeito manada", explica o professor Renato Colistete, da FEA-USP. "Os negociantes começaram a vender os contratos e o mercado fictício desapareceu." Assim como evaporaram as propriedades e tudo o que os holandeses empenharam na tulipamania. O relato de Mackay é controverso e muito do que conta pode ser lenda, ou seja, tão real quanto o valor de muitos títulos negociados Bolsas afora. Mas a história ilustra bem a crise que chacoalha Wall Street, tragando instituições de peso como o banco Lehman Brothers e virando a ideologia do livre mercado pelo avesso.

Assim como o governo americano já torrou US$ 1 trilhão para aliviar a crise (e deve gastar em breve outros bilhões), o governo holandês teve de intervir. Os contratos podres eram comprados por 10% de seu valor. Para Colistete, a atual intervenção "é surpreendente". Muito diferente de 1929, quando o governo Herbert Hoover assistiu de braços cruzados à erosão do sistema financeiro. Dinheiro público seria usado só depois, para pagar as frentes de trabalho num país em que 25% da população ficou desempregada.

Um dos efeitos da tulipamania foi a sofisticação do sistema financeiro e a criação de mecanismos como o mercado de opções. Colistete acredita que a atual crise também trará mudanças: "Haverá uma pressão por mais transparência", diz, já que houve uma oferta exacerbada de crédito ao setor imobiliário e os riscos não foram perceptíveis no início.

Sobre a crise atual, o professor não se arrisca, mas parece crer no presidente do Federal Reserve: "Ele está usando o conhecimento acumulado pelos estudos", brinca Colistete. Enquanto acadêmico, Ben Bernanke foi um especialista em Grande Depressão.

o anti-prefeito

"Eu dedico esta vitória ao Serra", foi assim, com os olhos azuis arregalados, sorriso no rosto, que Gilberto Kassab agradeceu pela vitória à prefeitura de São Paulo. O prefeito é bem-agradecido. Tem de ser. Serra foi seu grande fiador. Sem o governador de SP, Kassab continuaria sendo só mais um deputado baixo-clero do PFL (DEM) paulista, ex-secretário de Pitta e representante de um eleitorado meio... antigo. Virou prefeito, por acidente de percurso. Ele era o marionete mais conveniente para Serra. Mas o destino existe para Kassab, nem que seja pela metade. Ele é agora o nosso prefeito, quer dizer...o anti-prefeito.

Sejemos sinceros: quem administra a prefeitura de SP é o secretário das Subprefeituras, Andrea Mattarazzo. Graças ao bom Deus e à maquiavelia de Serra! Imaginem uma cidade governada pelo Kassab mais "primitivo", o Kassab que enxotou chamando de vagabundo um manifestante, o Kassab herdeiro do Maluf way of government? Ele pode ter se redimido e se tornado um neo-tucano travestido de demo. Mesmo assim, Serra preferiu deixar o governo da cidade nas mãos de Andrea.

Filho da fina flor da elite paulista (primo do ex, Suplicy, de Marta), Andrea seria algo como o primeiro-ministro de São Paulo, elegante, quase um personagem romano saído de um filme de Fellini. É a sombra do anti-prefeito.

Com cenário armado para 2010, cabe a Serra agora lidar com os detalhes para dar o cheque-mate. A arquitetura política conservadora está pronta. Mas se quiser ser chegar ao Palácio do Planalto, em 2010, Serra terá de mostrar muita malemolência, descer do salto alto e comer buchada, feito FHC em 1994. Se mantiver sua arrogância típica, vai quebrar a cara. Algo ao estilo Cristina Kirchner. Serra terá de mudar seu estilo negociador (deplorável, na recente "guerra civil" entre as polícias de SP e na ocupação da reitoria da USP, ano passado). Como se comportaria um "presidente Serra" ao negociar a atual crise dos brasiguaios no Paraguai, que deve ser o calcanhar-de-Aquiles da política externa nos próximos anos?

Serra provou que consegue eleger um anti-prefeito em SP. Mas na presidência... bem... na presidência não há espaço para anti-heróis.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

pastoreando o Paraguai

O ex-bispo Fernando Lugo tomou hoje posse como presidente do Paraguai, encerrando uma hegemonia de 61 anos do Partido Colorado no poder. Jurou a Constituição vestindo uma camisa branca, sem gravata nem paletó, calçando sua habitual sandália de couro. Ainda não se sabe no que vai dar esta aventura (democrática) que Lugo encara como missão quase espiritual - por o mínimo de ordem em um Estado arrasado pela corrupção, clientelismo, isolado na planície parte pantanosa do centro da América do Sul.

A imprensa não vai demorar para adicionar Lugo à lista dos presidentes populistas de esquerda que pipocaram no continente. Mas Lugo tem um apelo diferente dos outros. Seu personagem não se ampara na origem étnica de boa parte da população, caso de Evo Morales na Bolívia, ou no discurso ideológico cujo pacote inclui políticas compensatórias e assistencialistas, caso de Hugo Chávez, na Venezuela. Suas sandálias lembram que ele ainda é um religioso. Especula-se qual escola esquerdista irá adotar, se a bolivariana de Chávez ou a pragmática de Lula e Michele Bachelet do Chile. Lugo provavelmente fará a opção por uma revolução a la São Francisco de Assis.



A primeira grande batalha que o presidente missionário deve encarar é seu próprio gabinete. Lugo foi eleito por uma coalizão de onze partidos. A Aliança Patriótica para a Mudança inclui de movimentos sem-terra radicais ao centenário Partido Liberal, do vice Federico Franco, histórico rival dos Colorados. Curiosamente, os liberais estiveram no poder até 1947, quando o Partido Colorado assumiu o país depois da Guerra Civil, pregando justamente o fim da oligarquia autoritária dos liberais - as avessas do que se vê hoje. Daí os temores de que ele pudesse sofrer um golpe de seu vice, Franco, que já reclamou mais poder na condução do novo governo. Embora essa conspiração soe surreal aos nossos ouvidos, golpes e desrespeito deslavado às instituições do Estado ainda são corriqueiros no Paraguai.

Ao que parece, a principal garantia de governabilidade no Paraguai será o próprio Lugo, daí seu apelo religioso numa sociedade católica que lembra o interior do Brasil. O presidente já disse que pretende implantar um programa de renda básica no país e Brasília está disposta a ajudar. Se por aqui o Bolsa Família garante um forte respaldo a Lula, no Paraguai pode render um poder quase fascista a Lugo. Resta saber se ele não cairá em tentação.

Fato é que o Paraguai nunca mais será o mesmo a partir de hoje. O fracasso da elite política tradicional é evidente, tanto que a derrota dos colorados se explica também pelo racha em seu seio de poder. O grande consenso é de que o país precisa de mudanças urgentes, questões primordiais também às elites econômicas, que esbarram em vícios arcaicos para se inserir no mundo globalizado. Nem a internet é liberalizada no Paraguai. Por isso, a tarefa de Lugo é herculiana. Estranho seria se o novo presidente declinasse da ajuda dos deuses.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

a Itália e sua política mofada

O primeiro-ministro Romano Prodi, 68 anos, parece repetir a sina que ronda a Itália desde o fim da Segunda Guerra - a instabilidade política. Contam-se nos dedos de uma mão os políticos que conseguiram completar um mandato inteiro à frente do governo. O premiê de centro-esquerda perdeu o voto de confiança do Senado na útima sexta-feira, numa sessão estridente, que teve socos, berros e comemoração com champagne e mortadela por parte dos deputados da oposição de direita. Nada mais italiano... O presidente da República Italiana, Giorgio Napolitano, 82 anos, pediu ao presidente do Senado, Franco Marini, 73, que forme um governo provisório. Quem não gostou foi o lider da oposição conservadora, o magnata e vovô playboy Silvio Berlusconi, que aos 71 anos quer o poder de volta a qualquer custo.

Faz tempo que a Itália luta contra a decadência. Sua economia, que já foi tão grande quanto à do Reino Unido, está prestes a ser ultrapassada pela da Espanha, o país "subdesenvolvido" que entrou para a Comunidade Européia em 1986. Embora guarde o glamour de seu design e de sua moda, a Itália há tempos não produz cultura de vanguarda. Ainda é lembrada pelo cinema de Fellini e pela música de Pavarotti, que começaram sua trajetória nos tempos da "dolce vitta" dos anos 50. A Itália parece ter parado no tempo e isso pode se ver na média de idade de seus líderes políticos.

Enquanto os países europeus apresentaram ao mundo líderes joviais e pujantes como Tony Blair, na Inglaterra, Zapatero, na Espanha, e Sarkozy, na França, a Itália patina no mais do mesmo. Tanto que o presidente Napolitano, no alto de sua idade, quer mudar as regras do jogo político do país. O Parlamento e o Senado, somados, possuem mais de mil legisladores, a maioria velhinhos, já que muitos possuem mandato vitalício. Os privilégios são imensos: eles recebem o maior salário parlamentar da Europa, só para citar um.

A burocracia também é italianíssima. Se por aqui reclamamos dos 22 ministérios do presidente Lula, o que dizer dos 102 ministros do governo Prodi. Sim, 102 ministros!!! E os italianos são 59 milhões, quando nós somos 180 mi.

Em artigo publicado no The New York Times, em dezembro, o correspondente Ian Fisher diz que "mais velha e mais pobre, a Itália está em depressão". Numa nação onde a maioria dos jovens só saem de casa em torno dos 30, o jornalista ouviu um blogueiro, que sintetiza bem o sentimento italiano: "Em todo país os jovens têm esperança. Aqui na Itália não há mais esperança. Sua mãe mantém você bem em casa, e você fica lá e não luta. E se você não luta, é impossível tomar o poder de alguém", disse Mario Adinolfi, 36 anos. "Nós não temos um Google aqui. Não podemos imaginar na Itália alguém com 30 anos abrindo um negócio em uma garagem", emenda. Na Itália, conhecida por seus bons vinhos, a máxima etílica de "quanto mais velho, melhor" parece não funcionar.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

o monstro de Niemeyer

Decepcionante o presente de Niemeyer a Fidel Castro. A escultura, inaugurada esta semana na Universidade de Ciências da Informação em Havana, traz o desenho de um monstro com a boca aberta frente a um homem que segura a bandeira cubana. O "monstro imperialista", como já está sendo chamada, faz juz ao apelido. É horrível!! Niemeyer está irreconhecível na obra...

Cristina K. se estranha com Roma

Ainda não se pode chamar de briga, mas a presidenta (como exige ser chamada) Cristina Kirchner criou mais um embaraço internacional. É que a Santa Sé não deu, nem vai dar, o agrément ao embaixador argentino indicado pelo governo da Argentina para o Vaticano. O nome indicado, Alberto Iribarne, já foi vice-ministro do Interior, ministro da Justiça e ocupou outros cargos importantes no governo argentino. Apesar da experiência, o Vaticano não acha que a recomendação seja adequada porque... pasmem!... Alberto Iribarne é divorciado e vive com outra mulher. Tsc, tsc, tsc...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

América Latina volta à agenda dos EUA

Ontem à noite, o presidente George W. Bush proferiu o seu último Discurso do Estado e da União. A tradicional fala do presidente ao Congresso abre o ano legislativo americano, com a agenda do governo dos Estados Unidos. Como era esperado, Bush falou "republicanamente" sobre cortes de impostos, as turbulências que rondam a economia do país e pediu o apoio dos congressistas às guerras que o país trava mundo afora. Desta vez, parece que a América Latina voltou à agenda política de Washington. Bush pediu ao Congresso que aprove o Tratado de Livre Comércio com a Colômbia. Mais que um mero projeto de integração econômica, o TLC tem um forte sentido político e é uma estocada na paranóia bolivariana de Hugo Chávez.

Bush não citou o pseudo-democrata venezuelano, mas foi explicito ao dizer que tratados como esse são de "interesse estratégico" dos EUA. "A Colômbia é uma nação amiga, que luta contra a violência, o terror e o narcotráfico. Se fracassarmos (os EUA) em aprovar este acordo de livre comércio, fortaleceremos aos promotores do falso populismo", disse, numa clara menção à Chávez.

Após duas décadas de anemia diplomática em relação à América Latina, os EUA parecem retomar o interesse pelos vizinhos. As peripécias de Chávez e sua legião de seguidores incomodam o "império do norte" (segundo o léxico bolivariano), mas também boa parte dos países latinos da região, como o Brasil e o Chile, que possuem uma democracria de mercado afinada com a ordem econômica mundial. Ontem, Chávez anunciou, com seu cupincha Daniel Ortega, da Nicaragua, o projeto de criação de uma força armada "bolivariana", para defesa do continente. Disse, mais uma vez, que há um plano dos EUA, endossado pela Colômbia, de assassiná-lo. A neurose patológica de Chávez mostra que o pseud0-democrata venezuelano está mesmo com a cabeça nos tempos da Guerra Fria. Sua tese seria correta se vivessemos nos anos 70, quando Washington não titubeava em derrubar governos incômodos no seu "quintal latino-americano". Mas os tempos são outros. Resta saber até quando vai durar o fôlego de Chávez, cujo mercado de petróleo se vê agora ameaçado pelas perspectivas de recessão americana. O pseudo-democrata venezuelano lembra os personagens recorrentes de Garcia Márquez no seu romance "Cem Anos de Solidão". Quando pensamos que já haviam morrido, eles reaparecem, em outro corpo, mas com as mesmas idéias, prenunciando sempre a fatídica vanguarda do atraso que ronda a América Latina.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

todos vão ao casamento de Sarkozy

Pelo menos é o que garante a Ryanair. A companhia aérea irlandesa, que ficou famosa na Europa por vender passagens ao custo de € 1, lançou, na França, uma campanha no mínimo pitoresca. A peça publicitária usa a imagem do presidente Nicolas Sarkozy e de sua namorada, a italiana Carla Bruni. Na conversa, Carla diz: "Com a Ryanair, toda a minha família pode assistir ao meu casamento", referindo-se aos baixos preços praticados pela companhia.

Só há um inconveniente na história: Carla Bruni é de Turim, onde não há vôos diretos da Ryanair para Paris. Por isso, os parentes da futura primeira-dama francesa terão de ir até Milão para, então, seguir à França. O negócio ainda sim é bom. Se fizerem suas reservas com três semanas de antecipação, vão pagar € 39,64, ida e volta, pelas passagens, com taxas inclusas.

O Palácio do Eliseu anunciou que estuda processar a companhia, que já usou no passado a imagem de outros políticos europeus como o premiê espanhol, José Luiz Zapatero, e o da Polônia, Jaroslaw Kaczynski. Tony Blair também já figurou na publicidade da Ryanair, mas foi sua mulher, Cherie, que rendeu a maior polêmica. Ano passado, a então primeira-dama britânica vôou a bordo de uma aeronave da companhia para assistir as olimpíadas de inverno de Turim. Os tablóides ingleses não perderam a piada, já que no mesmo dia em que Cherie desembarcou na Itália, nos aviões de € 1, Laura Bush aterrisou no Air Force 2, da presidência americana. Semanas depois, a BBC transmitiu um documentário falando dos problemas de segurança da companhia irlandesa.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

amor e ódio na Colômbia

Prestes a organizar uma grande manifestação contra as FARC, marcada para meados de fevereiro, a Colômbia não parece estar unida em torno do tema do terrorismo. Tanto que a senadora Piedad Córdoba, que ajudou a mediar a libertação das reféns Clara Rojas e Consuelo Gonzáles, quase foi agredida hoje em um vôo de Bogotá a Caracas. A senadora, que apareceu de turbante e espalhafatosas roupas vermelhas durante a libertação, ganhou a atenção da mídia internacional. Apesar da fama, ela está longe de ser unanimidade entre os colombianos.

Em tempos de tensão diplomática entre Colômbia e Venezuela, Piedad é quase uma embaixadora de Hugo Chávez em Bogotá. Apesar das negociações do presidente venezuelano com a guerrilha, os colombianos não vêem com bons olhos o pseudo-democrata bolivariano, que já chamou o presidente Álvaro Uribe, da Colômbia, de mentiroso e mafioso. Embora os números não sejam a melhor maneira de medir o amor e o ódio, é reveladora a pesquisa publicada hoje pelo instituto Gallup - 81% dos colombianos apóiam a gestão de Uribe, o melhor percentual de todo o seu governo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

a fé de Barack Obama

George W. Bush é crente. Hillary Clinton e Barack Obama também são. E Barack Obama não é muçulmano, como afirma categoricamente a pastora Jane Fisler Hoffman, ministra da United Church of Christ, congregação freqüentada pelo senador, em Chicago. O depoimento em que defende a fé cristã de Obama pode ser visto no portal do pré-candidato no You Tube. A campanha inclusive dispõe de um site, o faith.barackobama.com, que trata exclusivamente da fé do senador.

Obama se projeta como voz das massas, dos jovens, com idéias de cunho liberal para a América republicana e conservadora do crente George W. Bush - ao menos é assim na imprensa. Mas Obama também se esforça para ganhar a simpatia da temente população americana que vive nos confins do país. O pré-candidato democrata à Casa Branca tem uma origem incomum - é negro filho de um queniano, viveu na Ásia e tem parentes muçulmanos, o que é quase uma hecatombe para as mais "puristas" mentes da América. Daí o discurso de Jane F. Hoffman.

Esta semana, Obama fez um longo discurso em uma congregação batista na Carolina do Sul. Falou pouco, ou quase nada, de questões de campanha como a crise imobiliária americana ou a guerra no Iraque. No púlpito, portou-se como um pastor e fez uma analogia de sua campanha com "o cerco de Jericó", passagem que narra a união do povo judeu para retomar o seu templo, citada na Bíblia. Na abençoada terra dos tementes americanos, Deus é um eleitor imprescindível para todos os aspirantes à presidência. Mesmo a moderna e (agora) nova-iorquina Hillary Clinton não pode se dar ao luxo de dissimular a sua fé. No discurso em que agradeceu pela vitória em New Hampshire, ela se despede dizendo: "Deus abençoe a todos vocês". Amém.

Veja o vídeo "Barack Obama é cristão, não muçulmano", da pastora Jane F. Hoffman:



"SP mais perto do primeiro mundo"

Essa foi uma das manchetes publicadas ontem pelo diário espanhol El País. A reportagem, assinada pelo correspondente Juan Arias, diz que a cidade está prestes a cumprir três décadas com índices de assassinatos inferiores a 10 para cada 100 mil habitantes, o que a posicionaria na média mundial. A opinião é endossada pelo diretor do Instituto Brodel de Economia Mundial, Norman Gall. O texto cita estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Estado e faz elogios às administrações tucanas de Covas, Alckmin e Serra. Segundo a reportagem, a principal razão pela queda no número de homicídios está na construção de novos presídios, empreendidas nos últimos anos. É estranho que a notícia não tenha feito eco na imprensa brasileira, que adora reportar tudo o que publicam sobre o país lá fora. Mesmo com os números animadores, os que vivem por aqui sabem que não dá para comemorar. O noticiário sobre a Polícia de São Paulo nos últimos dias dá conta de coisas que os gringos não publicam: envolvimento de policiais em milícias genocidas na periferia e desvio de parte de uma apreensão de drogas por membros da PM.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

mestres e doutores made in Paraguay

Relógios, bebidas, eletrônicos e todo tipo de trambolho de origem duvidosa circulam diariamente entre Cidade do Leste e Foz do Iguaçu. Tamanho trânsito fez do contrabando marca do Paraguai, tanto quanto a guarânia, tradicional música local. Por isso mesmo, paraguaio já virou adjetivo para falsificação. O editorial de hoje do ABC Color, o principal jornal do país, chama a atenção para outro tipo de comércio ilícito, que não passa pela Ponte da Amizade. Trata-se do contrabando de títulos de mestrado e doutorado emitidos por universidades paraguaias a estudantes brasileiros. Para se tornar mestre ou doutor no país vizinho, não é preciso freqüentar muito mais que meia-dúzia de aulas.

O jornal fala que "as universidades privadas foram se abrindo e se expandindo pelo país sem que o Estado assumisse sua função de vigiá-las". Nada muito diferente do que acontece por aqui, pesem algumas implicações: o Paraguai não possui um sistema de controle acadêmico como o Brasil, que tem o provão e afins. Além disso, boa parte da demanda por estes cursos vem do outro lado da fronteira. As universidades estão montando cursos exclusivos para brasileiros, alguns em português e fechados aos paraguaios, vendidos aqui por agências especializadas, que cobram cerca de R$ 10 mil pelo título, divididos em até 36 vezes.

O escândalo já foi noticiado pelo Estadão, em 2005, citando na época as empresas Educare, Universo e Instituto Internacional de Planejamento Educacional. Segundo o diário ABC Color, a publicidade das agências fala em duas mil horas-aula. Mas, "numa comparação com a quantidade de dias que duram os cursos, cada hora-aula duraria de cinco a dez minutos", diz o jornal. Os cursos são geralmente ministrados em semanas de janeiro e junho, na capital, Assunção.

Não há muito o que se esperar das autoridades do Paraguai, onde, infelizmente, a fronteira entre os interesses públicos e privados é de longe mais enevoada que aqui. A responsabilidade, ora, recai sobre o Ministério da Educação do Brasil. Como se não bastasse toda a sujeira envolta nos cursos superiores brasileiros, o poder público ainda tem de se preocupar com as universidades do país vizinho. Haja energia!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Nova York vai avaliar seus professores

Há alunos bons e ruins. Alunos que precisam de atenção especial e outros que se destacam. A afirmação é tão óbvia quanto pensar que o mesmo princípio vale para os professores. Há profissionais capacitados e outros nem tanto... No caso do Brasil, parte da falácia em que vive nossa educação é responsabilidade de professores mal-qualificados. Descontadas as proporções, a regra é a mesma em todo o o lugar. Para tratar da questão, o governo da cidade de Nova York está adotando uma medida que parece também ser óbvia, mas já causa polêmica - a avaliação dos professores da sua rede pública.

O experimento ainda não foi anunciado oficialmente, mas consta na edição de hoje do The New York Times. Por enquanto, a avaliação se dará em 140 colégios, cujos nomes não serão revelados. O poder público irá monitorar e avaliar os professores a partir de vários quesitos, sendo o principal a performance dos alunos ensinados por eles.

Ainda não se sabe como o governo de Nova York irá proceder quando tiver um diagnóstico dos docentes em mãos. Mas a secretária de Educação da cidade insinua que mais polêmica deverá vir por aí: "Se nós apenas disponibilizarmos estes dados a cada um dos moradores da cidade - professores, pais e diretores, e dizer a eles que façam o que quiserem com as informações, isso já será um passo e tanto", afirmou Chris Cerf, que pretende que a ação seja uma quebra de cultura no sistema de educação da cidade.

A divulgação dos dados é um tanto exagerada, creio eu. Mesmo assim, o Brasil deveria observar e adotar políticas de avaliação de seus professores. É notório que muitos de nossos professores não têm formação adequada, não se reciclam, simplesmente acomodam-se, sem contar que nos milhares de municípios país afora, vale mais ser parente do prefeito que ser bem formado na hora de ocupar a vaga de docente em uma das escolas.

Em abril do ano passado, o Ministério da Educação incluiu a avaliação dos professores no Plano de Desenvolvimento da Educação, voltado aos 200 municípios com pior performance na área. Mas se a questão preocupa até a desenvolvida Nova York, isso mostra que o MEC deveria estudar e propor uma avaliação de abrangência nacional. Com os dados em mãos, o ministério saberia onde está e como atacar o problema. Resta saber se há coragem por parte do governo, que vai pensar duas vezes antes da gritaria dos professores.

o amor de Amy Winehouse

Seu pai tentou mandá-la para a clínica de reabilitação, mas ela disse não. A rebelde Amy Winehouse foi uma das mais gratas revelações da música britânica em 2007. A cantora de 24 anos, voz doce e cara de menina carente transformou-se numa celebridade e é presença constante na mídia, em notícias nem sempre boas. Mas Amy, a nossa Janis Joplin versão 2, é do bem. Seu único problema é ser muito apaixonada. Que o diga seu marido. Na sexta-feira, gritou que o amava, em plena sessão de um tribunal, onde o rapaz de 25 anos prestava depoimento a um juiz. "Love you handsome. Gorgeous one! (Te amo lindo!)", declarou Amy.

Blake Fielder-Civil está preso depois que agrediu um homem em Londres e lhe ofereceu propina, para que não denunciasse o caso à polícia. Amy já chorou no palco, depois do acontecido, no último verão. Foi inclusive advertida pela ONU, para dar melhor exemplo à sua legião de fãs - a cantora foi fotografada com o nariz sujo de um certo pó branco, dia desses...

Escândalos à parte, fica aqui Rehab, a música autobiográfica em que Amy canta a sua rebeldia ante as tentativas do pai para que ela passasse por um tratamento de reabilitação.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

a maquiagem de Sarkozy e Ségolène

Com seu sorriso de apresentador de show de calouros, Nicolas Sarkozy conduziu a líder do partido socialista, e sua adversária política, Ségolène Royal, até a entrada do Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa. Na foto publicada no diário Liberation, Ségolène nem esboçou um sorriso amarelo. Tinha a cara fechada, sóbria, apesar do colorido de seu tailler rosa (mais discreto que para espalhafatoso). A dupla, que se digladiou ano passado pelo mando do país, encontrou-se para acertar as rebarbas dos gastos da eleição com a Comissão Nacional de Contas de Campanha. Tanto Ségolène quanto Sarkozy vão ter de devolver dinheiro ao órgão, responsável pelo controle do financiamento público das campanhas do país. Mas não se trata de nenhum esquema do tipo mensalão. É que os dois, basicamente, gastaram demais com maquiagem e penteado...

Sarkozy gastou € 34 mil em gel, cremes corretores e pó-de-arroz (que termo antigo!) para ficar bem em cena. Ségolène dispensou ainda mais, quase € 52 mil, em blush, fixador para o cabelo e todo o trambolho de maquiagem que as mulheres não vivem sem. A Comissão entendeu que parte desses gastos é de ordem pessoal e não pode ser pago pelo erário francês. Resultado: Sarkozy terá de devolver € 11 mil e Ségolène € 17 mil à Comissão.

Não se trata de nenhum escândalo político. É assim que as coisas funcionam no mundo civilizado. Mas não dá para perder a piada: mesmo com tanta maquiagem, parece que está difícil seduzir os franceses. A socialista Ségolène não empolgou o eleitorado durante a campanha. O direitista Sarkozy levou a melhor na eleição mas também está ruim na cena, mesmo com o reforço de imagem de sua nova namorada, a modelo Carla Bruni. Pudera: os franceses adoram a beleza, mas não pensam muito para botar o castelo abaixo quando estão descontentes. Que o diga Maria Antonieta.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

o circo de Chávez

Clara Rojas e Consuelo Gonzalez estão livres. Depois de anos sequestradas pelas FARC, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, a advogada de 44 anos e a deputada de 56 podem voltar para casa, para suas famílias. Não há como não ficar feliz com a liberdade das duas, bem como não dá para não rechaçar a estupidez da guerrilha colombiana, cuja ideologia já se esvaiu há tempos para dar lugar a um tática de mero desmonte do Estado da Colômbia - ou seja, os revolucionários já entraram na classificação dos justiceiros sem causa.A questão colombiana é complexa. A história das duas é grande, triste e comovente. Por isso, uso o post para falar do circo de Chávez.

Pela primeira vez, o mundo parece ter dado o braço a torcer para o pseudo democrata venezuelano. Até o governo dos EUA ("o império do norte", no léxico bolivariano) rendeu elogios a Chávez. Tudo está ok até o momento. Pesares à parte, o presidente da Venezuela tem seus méritos (bem como seus deméritos) na negociação com as FARC. Foi uma ação humanitária, a qual o presidente Álvaro Uribe, da Colômbia, jamais poderia empreender, por conta de sua política de cerceamento da guerrilha.Questionável em todo o tempo foram os rompantes já conhecidos de Chávez durante as negociações. No fim do ano passado, ele simplesmente quebrou a hierarquia do Estado colombiano ao negociar imediatamente com o chefe do Comando Militar da Colômbia, passando por cima de Uribe e da institucionalidade do país vizinho. Claro que foi desautorizado por Bogotá e, em resposta, ao melhor estilo caudilho pateta latino-americano, Chavez disse improvérbios a Uribe, o chamou de mentiroso, etc, etc.Depois, Chávez e as FARC anunciaram a libertação de Consuelo, Clara e seu filho Emmanuel, que nasceu no cativeiro. Foi este o primeiro circo.

Toda a caudilhada latino-americana quis levar alguma coisa na história. Lá estavam o Marco Aurélio Garcia e o ex-presidente argentino Néstor Kirchner feitos papagaios de pirata. Só que a operação naufragou, simplesmente porque as FARC pensaram que tinham Emmanuel, mas não tinham. Ou seja, o grupo guerrilheiro que quer tomar de assalto o governo da Colômbia não consegue sequer contrololar o paradeiro de seus sequestrados.

Passada a frustração e a ressaca do primeiro circo, eis que Chávez arruma a segunda versão de seu espetáculo para o mundo. A libertação foi toda acompanhada pelas câmeras da Telesur, a TV chavista. Assim que são entregues, Clara Rojas e Consuelo Gonzalez já são postas diante das câmeras e, subitamente, começam a agradecer ao presidente Chávez. Em dois minutos, o ministro do interior da Venezuela, vestido com espalhafatosas roupas vermelhas no calor da selva amazônica, entrega um telefone às ex-reféns, com Chávez na linha. Ambas agradeceram mais uma vez ao presidente, tudo ao vivo pela TV.

No avião, mais agradecimentos. A Chávez, à Cruz Vermelha e uma série de outros envolvidos no resgate. Nenhuma menção a Uribe. É certo que o presidente da Colômbia não é flor que se cheire, é envolvido com as milícias paramilitares e teve uma política de não-negociação com as FARC. A questão é o que virá daí? Chávez vai se contentar com os sinceros agradecimentos de Clara e Consuelo? Ou vai, ao seu melhor estilo, usar a libertação como arma política no seu projeto panbolivariano pelo continente? Eu também agradeço a Chávez pela intermediação. Mas antes que o presidente da Venezuela possa dar qualquer declaração, é bom lembrar a frase real de Juan Carlos da Espanha: "Por que não te calas?".

trem bala em velocidade de tartaruga

Há alguns meses, a imprensa e os burocratas do Planalto fizeram um zum zum zum em torno de um sonho antigo - a construção de um trem bala ligando o Rio a São Paulo. É ridículo pensar que um país de extensões continentais como o Brasil tenha simplesmente ignorado o transporte ferroviário, como fez nas últimas décadas. A desculpa, sempre, é a falta de verbas. Mentira! É falta de vontade política mesmo. Hoje, o diário La Nación noticiou o projeto de um trem bala que ligará Buenos Aires a Córdoba, passando por Rosário (as duas mais importantes cidades do interior do país). Já o projeto aventado pela ministra Dilma Roussef, que causou zum zum zum, parece dormir nas gavetas da burocracia de Brasília. "Sairá muito caro", dizem. Mas e o Brasil não tem dinheiro para tanto? Não somos a sexta economia do planeta?

Está certo que a Argentina cresceu mais que o Brasil nos últimos anos, mas há que se lembrar que esse crescimento significa, por enquanto, apenas a recuperação da economia do país vizinho aos antigos patamares, de antes do corralito que quase levou o país à falência, em 2001. Além disso, o Brasil tem uma estrutura econômica e política muito mais estável que nossos hermanos e os investimentos estrangeiros feitos por aqui nem de longe são comparados àqueles aportados na Argentina. Logo, se eles conseguem fazer um trem bala que vai cruzar mais de 700 km pelo interior do país, nós também conseguimos. Somadas, as populações de Buenos Aires, Córdoba e Rosário são de aproximadamente 18 milhões, menos que os 20 milhões de paulistas que vivem só na Grande São Paulo. Ora, ora... por aqui, temos muito mais gente a transportar e a pagar os bilhetes. Não há desculpas.

Quando se viaja pela Europa, pode-se observar a eficiência do transporte ferroviário de alta velocidade. É muito mais confortável que tomar ônibus ou avião. A edição de hoje do El País traz um gráfico que mostra o projeto, já pronto, de um um trem bala que passará sob o estreito de Gibraltar, ligando a Europa à África, pelo Marrocos, ao estilo Eurostar, que liga Londres a Paris. O Brasil deveria seguir o exemplo da Espanha, um país que há menos de 30 anos tinha estatísticas de terceiro mundo, cuja classe política se uniu em torno de um projeto de Estado, essencial na trajetória de desenvolvimento do país nas últimas décadas. Isso significa que, se o Brasil quiser, pode sim construir o trem bala entre o Rio a São Paulo, bem como projetar outras linhas país afora (uma ferrovia que ligasse as capitais do Nordeste pelo litoral, por exemplo, faria explodir a indústria do turismo na região).

Toda esta história vale para a Educação, a infra-estrutura, a Cultura e tudo mais que está esculhambado no Brasil. Vale também para o Metrô de São Paulo. Chega a ser patético uma cidade dessas dimensões ter uma rede tão acanhada.
 
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