sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ingrid, "a egoísta"

Ela não queria repartir os poucos livros disponíveis na floresta e ainda roubava comida no cativeiro. Será o fim de Ingrid Betancourt como mocinha da história?

No livro "Out of Captivity", escrito por três ex-refens das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Thomas Howes, Keith Stansell e Marc Gonsalves, a ex-candidata a presidente da Colômbia é descrita como sendo uma pessoa egoísta, "uma princesa arrogante" que "pensa que as Farc construíram um castelo só para ela".

O livro põe mais lenha na fogueira da já polêmica ex-refém. Sua ex-companheira de chapa, Clara Rojas, que também foi sequestrada, não fala mais com a ex-amiga. Na Colômbia, há quem veja a Ingrid como uma oportunista, que quis faturar em cima de seu infortunio.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

protesto de merda

Os produtores leiteiros da província argentina de Santafé fizeram, literalmente, um protesto de merda em frente a uma usina de laticínios local. Nos tambores, ao invés de leite, outro produto menos nobre das mimosas.

começou 2009

"O brasileiro é um feriado!", segundo Nelson Rodrigues.

Começamos, enfim, a parte 2 do nosso Carnaval. Feliz 2009!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

o grande Vicente Fernandez

Diálogo num táxi em Barranquilla, cidade no Caribe colombiano onde nasceu Shakira

- Y usted de donde es?, pergunta o motorista.
- De Brasil.
- Chévere! Que bueno que podrá disfrutar Barranquilla. El domingo habrá un concierto de Vicente Fernandez.
- Vicente quien?, questiono.
- Vicente Fernandez... ah, no me digas que no conoce a Vicente Fernandez. El és un do los más grandes cantantes de todo el mundo.
- Perdon, pero no le conozco.
- Ah... esto posible no es. Pues fijete... es que acá tengo un DVD y te muesto en un minuto.

O taxista para e se põe a buscar o DVD do cantor mexicano, estrela máxima dos fãs latinos. O carro decorado com badulaques coloridos tinha uma tela de plasma no banco traseiro. A cena parecia sair dos blocos de Regina Casé, no Fantástico. Três minutos depois, lá estava eu assistindo Vicente Fernandez, devidamente acompanhado pelo coro do motorista, é claro.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Caso dos "falsos positivos" persegue Uribe

para a Folha de S. Paulo, 15.fev.09

Mesmo após destituição de 27 militares, sobe número de militares investigados por cooptar e matar jovens, inflando cifra do combate às Farc

Mãe da periferia de Bogotá conta busca pelo cadáver do filho assassinado em troca de recompensa e depois acusado de ser da guerrilha

MAURÍCIO MORAES
EM BOGOTÁ

No dia 8 de fevereiro de 2008, o colombiano Jaime Steven (foto), 16, ligou para sua casa em Soacha, a uma hora de Bogotá. Com a voz sussurrada, contou rapidamente à irmã que estava em Ocaña, próximo à divisa com a Venezuela. Steven desaparecera havia dois dias, deixando a mãe em desespero. Apesar da chamada, só foi encontrado sete meses depois, morto, numa vala comum.

Oficialmente, Steven era um membro das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), assassinado numa batalha com o Exército. Mas os fatos acabaram por mostrar que ele é mais um dos cerca de 1.500 "falsos positivos" -muitos garotos pobres cooptados e mortos por soldados que, em busca de recompensa e promoção, forjavam enfrentamentos com a guerrilha e baixas.

O escândalo estourou em outubro passado e segue sendo um calcanhar-de-aquiles do presidente Álvaro Uribe, dado o volume cada vez maior de soldados arrolados nas investigações no Ministério Público. No fim de janeiro, já eram 1.500.

Se casos do tipo já eram denunciados por ONGs há vários anos, o assassinato de Steven e outros dez rapazes de Soacha detonou o surgimento de relatos em vários pontos do país e acendeu a luz amarela em relação à exitosa política de "segurança democrática" de Uribe, a ofensiva militar que acossou como nunca as Farc e deu a ele recordes de popularidade.

María Sanabria (foto), 50, seguiu buscando o filho Steven desde o telefonema. Na casa em que vive com 3 dos 8 filhos em Soacha, uma cidade-dormitório paupérrima de 400 mil habitantes, ela conta que em 28 de setembro foi mais uma vez ao Instituto Médico Legal, quando surgiram na imprensa as primeiras suspeitas. Foi a filha quem, no dia seguinte, o identificou. "Fui então ver as fotos. Vi que o haviam torturado porque tinha a testa inchada. Bateram muito nele", chora.

No centro de Bogotá, a poucas quadras da Casa de Nariño, o palácio presidencial, o ex-deputado Jairo Ramírez, presidente do Movimento Nacional de Vítimas, diz que as organizações de Direitos Humanos da Colômbia contabilizam cerca de 1.500 casos como o de Steven. "O governo mede o desempenho [das Forças Amadas] pela quantidade de mortos. É uma prática macabra."Civis estariam fazendo falsas denúncias, ligando pessoas à guerrilha, em busca de recompensa: "Em [departamento de] Arauca, o presidente do Comitê de Direitos Humanos foi preso porque foi denunciado como sendo ligado às Farc", diz.

Ramírez anda de carro blindado, com proteção policial, após receber ameaças de paramilitares -apesar da desmobilização negociada pelo governo em 2005, há remanescentes deles e novos grupos, que dividem com as Farc o comando do tráfico. Uma investigação sobre a vinculação dos "paras" com políticos já levou à prisão de mais de 30 congressistas, a maioria governista.

Fernando Escobar, representante do Ministério Público em Soacha, também está sob ameaça de morte desde que liderou as denúncias dos "falsos positivos". "Me acusam de ser inimigo de Uribe, do Exército, de colaborar com a guerrilha."

Reação e medidas

A primeira reação de Uribe ao escândalo foi defender os militares, dizer que os rapazes achados em Ocaña eram delinquentes -nenhum tinha grave delito nas fichas policiais.

Mas o caso cresceu e o Ministério da Defesa abriu investigação interna. Pressionado, o comandante do Exército, general Mario Montoya renunciou. Outros 27 -entre eles três generais- foram destituídos.

O ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, citado como presidenciável em 2010, baixou um manual com "regras para o enfrentamento" e estabeleceu exigência de bom histórico na matéria para promoções. Bogotá reconheceu o caso em dezembro, no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

O cuidado com o tema - praticamente sem reflexo na aprovação do governo - é redobrado quando Uribe está em campanha para convencer a Casa Branca de Barack Obama e o Congresso de maioria democrata a manter a ajuda milionária que os EUA transferem à Colômbia para o combate ao narcotráfico e à guerrilha. Após visitar o Brasil, a partir de amanhã, acompanhando o presidente Uribe, o chanceler Jaime Bermúdez vai a Washington iniciar a ofensiva diplomática. Santos integrará a missão.

Saga de horror
O enredo de horror da mãe de Steven não acabou com a confirmação da morte. María, que trabalha para a Cruz Vermelha, viajou a Ocaña. "O mais terrível foi quando o tiraram da cova, numa bolsa preta. Nunca vou apagar isso da memória."Sem dinheiro para o translado, voltou sozinha a Soacha. Levaria dois meses até levantar fundos para o funeral. Em novembro, o corpo de Steven foi finalmente enterrado.As medalhas de atletismo e natação do garoto seguem penduradas na casa. María diz não confiar na Justiça, tampouco diz ter medo de represálias por denunciar o caso. "Levaram-no direto ao matadouro."

Fotos William Martinez

sábado, 14 de fevereiro de 2009

do terror à folia

Escrevo este post em primeira pessoa. Estou há uma semana na Colômbia, para uma oficina de crônicas da Fundação Gabriel Garcia Márquez. Aterrisei em Bogotá num dia cinzento, com garoa e frio, o que parece ser habitual na capital colombiana. Tive uma maldita dor de cabeça por conta da altitude de 2.600 metros (Clara Rojas me receitou um chá aromático quente - sim, trata-se da simpatissísima refém liberada ano passado, ex-canditata à vice-presidência, na chapa de Ingrid Betancourt). Estou agora em Barranquilla, a alguns minutos do mar, na cidade de Shakira e do mais famoso carnaval do Caribe.

Minha jornada colombiana começou em busca de uma entrevista com Alan Jara (na foto rodeado pelo filho e pela esposa, Claudia), um dos reféns das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), liberto pela guerrilha na semana passada. A conversa com Jara, e com seu filho Alan Felipe, 15, aconteceu num restaurante. A entrevista à Folha foi a primeira dada a um veículo estrangeiro.


É difícil entender como uma pessoa que passou sete anos e sete mesos encarcerado, em condições subumanas, consegue manter tamanha lucidez e equilibrio (ao menos é o que parece). Jara parecia extremamente feliz, bem como o filho, hoje adolescente, que tinha apenas sete anos quando o pai foi sequestrado. "Eu não vi meu filho crescer, apenas vi meu filho crescer", contou ele.

Veja a entrevista completa na Folha.

Segunda e terça-feira viajei a Soacha, cidade a uma hora de Bogotá. Alí reportei um dos temas mais macabros e triste de minha curta vida jornalística, o caso dos falsos positivos. Tratam-se de rapazes pobres cooptados e executados pelo exército colombiano segundo uma lógica perversa de resultados na qual quanto maior o número de mortos (supostamente guerrilheiros), mais eficiente são as Forças Armadas no combate às Farc. Conversei com a mãe de Jaime Steven, 16, que nada tinha que ver com a guerrilha, embora oficialmente tenha sido morto num combate em Ocaña, dois dias depois de desaparecer de Soacha, mais de mil quilômetros distante.

A entrevista será publicada amanhã, domingo, no dia em que o presidente Álvaro Uribe chega ao Brasil. Convém dizer que, como prega o bom jornalismo, o Ministério da Defesa foi procurado para se posicionar sobre o caso. Cinco dias após o início dos contatos, o assessor do ministro me ligou para dizer que ele só poderia falar com a Folha a partir de terça, 17, justamente o dia em que Uribe voltaria à Colômbia - uma tática para postergar a publicação da reportagem e evitar mal-estar durante a estadia do chefe de Estado colombiano no Brasil.

Na quarta cheguei a Barranquilla, na costa do Caribe, para enfim tomar parte da oficina de crônicas da Fundação Garcia Márquez. Aqui estou com outros treze jornalistas de oito países latino-americanos, da Argentina ao México, passado por El Salvador. Fui o único brasileiro selecionado, de maneira que sou quase um gringo num mundo de "hispanohablantes". Ressalto a presença de três colegas venezuelanas, todas ressentidas pelo fato de não poderem votar no referendo deste domingo, no qual a Venezuela escolherá se quer ou não a eleição ilimitada do pseudo-democrata Hugo Chávez (serão três votos NÃO a menos).

Estamos escrevendo crônicas sobre o Carnaval de Barranquilla, uma festa super colorida, alegre, da qual os barranquilleros são extremamente orgulhosos. Os textos serão publicados posteriormente em um livro, em espanhol. Conto mais detalhes em breve.

Agora, ufa!, tenho de voltar à minha redação. E ainda tenho que ir "cumbiar" (o que é tudo muito estranho, já que eu nem sou amante do Carnaval). Ontem desfilei fantasiado, tomei rum e até assisti a um tiroteio. This is Latin America.

That´s all folks!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Barack Perón Obama

"No se si Obama habrá leído a Perón, pero déjenme decirles que se le parece mucho" .

A comparação um tanto quanto inusitada partiu da president(a) peronista Cristina Kirchner, da Argentina, em um pronunciamento na Quinta de Olivos.

É difícil entender a histérica e histriônica cultura política da Argentina (até para nós brasileiros acostumados a uma cultura política para lá de heterodoxa, para ser eufêmico). Numa comparação um pouco tosca, é como se as discussões políticas no Brasil ainda fossem pautadas pelas ideias de Getúlio Vargas (com direito a mausoléu, múmia e peregrinação), cuja doutrina trabalhista é vista como uma filosofia (feita de uma pitada de catolicismo anti-clerical, socialismo sem comunismo, uma grande dose de personalismo e outra de autoritarismo), amparada num grande partido, o Justicialista (vulgo Peronista), uma espécie de grande PMDB, com todos os seus vícios. Achou suficiente? Não... no Brasil não há nada a Evita para avançar na comparação.

Obama, segundo Cristina, bem que poderia ser peronista....tsc tsc tsc

O mais hilário é que, na Argentina, a comparação soou como elogio. Houve palmas retubantes após o discurso da president(a).

(fotomontagem do diário Perfil)

 
BlogBlogs.Com.Br