terça-feira, 29 de janeiro de 2008

América Latina volta à agenda dos EUA

Ontem à noite, o presidente George W. Bush proferiu o seu último Discurso do Estado e da União. A tradicional fala do presidente ao Congresso abre o ano legislativo americano, com a agenda do governo dos Estados Unidos. Como era esperado, Bush falou "republicanamente" sobre cortes de impostos, as turbulências que rondam a economia do país e pediu o apoio dos congressistas às guerras que o país trava mundo afora. Desta vez, parece que a América Latina voltou à agenda política de Washington. Bush pediu ao Congresso que aprove o Tratado de Livre Comércio com a Colômbia. Mais que um mero projeto de integração econômica, o TLC tem um forte sentido político e é uma estocada na paranóia bolivariana de Hugo Chávez.

Bush não citou o pseudo-democrata venezuelano, mas foi explicito ao dizer que tratados como esse são de "interesse estratégico" dos EUA. "A Colômbia é uma nação amiga, que luta contra a violência, o terror e o narcotráfico. Se fracassarmos (os EUA) em aprovar este acordo de livre comércio, fortaleceremos aos promotores do falso populismo", disse, numa clara menção à Chávez.

Após duas décadas de anemia diplomática em relação à América Latina, os EUA parecem retomar o interesse pelos vizinhos. As peripécias de Chávez e sua legião de seguidores incomodam o "império do norte" (segundo o léxico bolivariano), mas também boa parte dos países latinos da região, como o Brasil e o Chile, que possuem uma democracria de mercado afinada com a ordem econômica mundial. Ontem, Chávez anunciou, com seu cupincha Daniel Ortega, da Nicaragua, o projeto de criação de uma força armada "bolivariana", para defesa do continente. Disse, mais uma vez, que há um plano dos EUA, endossado pela Colômbia, de assassiná-lo. A neurose patológica de Chávez mostra que o pseud0-democrata venezuelano está mesmo com a cabeça nos tempos da Guerra Fria. Sua tese seria correta se vivessemos nos anos 70, quando Washington não titubeava em derrubar governos incômodos no seu "quintal latino-americano". Mas os tempos são outros. Resta saber até quando vai durar o fôlego de Chávez, cujo mercado de petróleo se vê agora ameaçado pelas perspectivas de recessão americana. O pseudo-democrata venezuelano lembra os personagens recorrentes de Garcia Márquez no seu romance "Cem Anos de Solidão". Quando pensamos que já haviam morrido, eles reaparecem, em outro corpo, mas com as mesmas idéias, prenunciando sempre a fatídica vanguarda do atraso que ronda a América Latina.

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