sábado, 14 de fevereiro de 2009

do terror à folia

Escrevo este post em primeira pessoa. Estou há uma semana na Colômbia, para uma oficina de crônicas da Fundação Gabriel Garcia Márquez. Aterrisei em Bogotá num dia cinzento, com garoa e frio, o que parece ser habitual na capital colombiana. Tive uma maldita dor de cabeça por conta da altitude de 2.600 metros (Clara Rojas me receitou um chá aromático quente - sim, trata-se da simpatissísima refém liberada ano passado, ex-canditata à vice-presidência, na chapa de Ingrid Betancourt). Estou agora em Barranquilla, a alguns minutos do mar, na cidade de Shakira e do mais famoso carnaval do Caribe.

Minha jornada colombiana começou em busca de uma entrevista com Alan Jara (na foto rodeado pelo filho e pela esposa, Claudia), um dos reféns das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), liberto pela guerrilha na semana passada. A conversa com Jara, e com seu filho Alan Felipe, 15, aconteceu num restaurante. A entrevista à Folha foi a primeira dada a um veículo estrangeiro.


É difícil entender como uma pessoa que passou sete anos e sete mesos encarcerado, em condições subumanas, consegue manter tamanha lucidez e equilibrio (ao menos é o que parece). Jara parecia extremamente feliz, bem como o filho, hoje adolescente, que tinha apenas sete anos quando o pai foi sequestrado. "Eu não vi meu filho crescer, apenas vi meu filho crescer", contou ele.

Veja a entrevista completa na Folha.

Segunda e terça-feira viajei a Soacha, cidade a uma hora de Bogotá. Alí reportei um dos temas mais macabros e triste de minha curta vida jornalística, o caso dos falsos positivos. Tratam-se de rapazes pobres cooptados e executados pelo exército colombiano segundo uma lógica perversa de resultados na qual quanto maior o número de mortos (supostamente guerrilheiros), mais eficiente são as Forças Armadas no combate às Farc. Conversei com a mãe de Jaime Steven, 16, que nada tinha que ver com a guerrilha, embora oficialmente tenha sido morto num combate em Ocaña, dois dias depois de desaparecer de Soacha, mais de mil quilômetros distante.

A entrevista será publicada amanhã, domingo, no dia em que o presidente Álvaro Uribe chega ao Brasil. Convém dizer que, como prega o bom jornalismo, o Ministério da Defesa foi procurado para se posicionar sobre o caso. Cinco dias após o início dos contatos, o assessor do ministro me ligou para dizer que ele só poderia falar com a Folha a partir de terça, 17, justamente o dia em que Uribe voltaria à Colômbia - uma tática para postergar a publicação da reportagem e evitar mal-estar durante a estadia do chefe de Estado colombiano no Brasil.

Na quarta cheguei a Barranquilla, na costa do Caribe, para enfim tomar parte da oficina de crônicas da Fundação Garcia Márquez. Aqui estou com outros treze jornalistas de oito países latino-americanos, da Argentina ao México, passado por El Salvador. Fui o único brasileiro selecionado, de maneira que sou quase um gringo num mundo de "hispanohablantes". Ressalto a presença de três colegas venezuelanas, todas ressentidas pelo fato de não poderem votar no referendo deste domingo, no qual a Venezuela escolherá se quer ou não a eleição ilimitada do pseudo-democrata Hugo Chávez (serão três votos NÃO a menos).

Estamos escrevendo crônicas sobre o Carnaval de Barranquilla, uma festa super colorida, alegre, da qual os barranquilleros são extremamente orgulhosos. Os textos serão publicados posteriormente em um livro, em espanhol. Conto mais detalhes em breve.

Agora, ufa!, tenho de voltar à minha redação. E ainda tenho que ir "cumbiar" (o que é tudo muito estranho, já que eu nem sou amante do Carnaval). Ontem desfilei fantasiado, tomei rum e até assisti a um tiroteio. This is Latin America.

That´s all folks!

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