segunda-feira, 6 de abril de 2009

morto, Alfonsín começa a remendar a Argentina

A Argentina é um país que não consegue construir sínteses. A história e a cultura do país vizinho é marcada pelo conflito e pela antítese (uma diferença elementar em relação ao Brasil). Vide a luta fratricida entre os empresários do campo e o governo de Cristina Kirchner, que se arrasta há mais de um ano. A prática política também é fortemente marcada por protestos populares. Tampouco a oposição consegue se entender e se articular.

Tudo é difuso e explosivo do outro lado da fronteira. Até o ex-presidente Raúl Alfonsín, morto aos 83 na semana passada, conseguir o que parecia improvável - reunir a classe política argentina em torno de seu esquife e aglutinar setores da oposição. Diferente do Brasil, onde conseguimos anteaver que o(a) próximo(a) ocupante do Palácio do Planalto virá do PT ou do PSDB e pouco irá mudar (porque as coisas se institucionalizaram), na Argentina não há nomes de peso que se contraponham ao governo, sempre com perigo do populismo à espreita. Um grande pampa sem cachorro.

Estaria, então, Alfonsín remendando a Argentina?

Em miúdos, antes de seguir: a Argentina possui tradicionalmente dois grandes partidos, (1) a centenária UCR (União Cívica Radical), de Raúl Alfonsín, um partido ligado a setores intelectuais e liberais de classe média, e (2) o PJ (Partido Justicialista), ou Peronista, fundado pelo ex-líder Domingo Perón, que instaurou um regime baseado no sindicalismo e no populismo, quase uma religião na Argentina, que se define como sendo "nem de direita, nem de esquerda", embora congregue de marxistas à Opus Dei.

Desde o anti-governo de Fernando de la Rua (UCR), que desaguou na "crise de 2001", quando o país praticamente faliu, a Argentina se vê sob o regime cada vez mais centralizador dos Kirchner (Néstor e agora Cristina), um casal provinciano da Patagônia que chegou à Casa Rosada simplesmente porque ninguém queria descascar o grande abacaxi deixado pela crise.

A "crise de 2001" não implodiu apenas com a ordem social do país, mas também despedaçou instituições e desagregou a oposição. O nome mais estridente, desde sempre, tem sido o de Elisa Carrió (foto), ex-UCR e líder de um novo partido, o ARI (Alternativa Republicana Igualitária), de esquerda. E a grande estrela emergente é o vice-presidente Júlio Cobos (foto acima), ex-UCR que foi para a seara kirchnerista, até romper com a presidentA Cristina ao se posicionar ao lado do "campo", votando contra o governo em relação a lei fiscal que desatou o conflito agrícola. Há ainda o prefeito conservador de Buenos Aires, Mauricio Macri, ex-cartola do Boca Junior e fundador do partido CPC (Compromiso para el Cambio).

Alfonsín, que reuniu um país despedaçado pela ditadura ao reconduzir a Argentina à democracia, em 1983, era um homem conhecido como conciliador, tipo raro na política estridente do país vizinho. Agora, com sua morte, a oposição argentina parece finalmente começar a tomar forma, com uma possível aliança de Elisa Carrió e Julio Cobos, com adesão de outros setores "radicais" dissidentes. É o que já se chama de "pan-radicalismo".

A dupla não deve atuar nas eleições legislativas desde ano (antecipadas para junho, por conveniência dos Kirchner, que com canetadas também diminuem os índices de inflação, medidas pelo Indec - o órgão oficial de estatística). Mas pode se apresentar para a corrida à Casa Rosada em 2011, acabando com hegemonia dos "pinguins", como são conhecidos os Kirchner na Argentina.

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